quarta-feira, 28 de outubro de 2009

o papel do indivíduo e do coletivo na história

* por dirley santos

tri-vices, cavalo paraguaio, time de bonecas, chororó, almoços da paz, “cadê você, cadê você?”, cliente preferencial, ameaça de invasão rubro-negra e agora a ameaça de rebaixamento.
lucio flávio, juninho, guerreiro, cuca, bebeto, andré silva, anderson barros e mauricio assunção.

os papéis desempenhados por eles têm seguido uma lógica de tragédia shakespereana. são goleiros fracos, zagueiros ruins, laterais inoperantes, meio-campistas limitados, atacantes inofensivos, diretores/conselheiros o(sub)missos; tudo isso ajudou a criar o estigma do “quase”.

estas situações e nomes vêm gerando uma mistura de amor e o ódio por parte da torcida botafoguense. a sensação que tenho é de os indivíduos têm se tornado mais importantes que o coletivo no botafogo de futebol e regatas. e estas demonstrações bizarras de ‘culto à personalidade’ (pró ou contra) que há algum tempo presenciamos me fazem lembrar um livro que li há muito tempo atrás.

em “o papel do indivíduo na história”, georgi plekhanov, destacado pensador marxista russo do início do século xx, defende a idéia de que os indivíduos proeminentes (lideranças, personalidades, governantes, etc.) cumprem na história papéis definidos pelo próprio processo histórico e/ou lhes autorizados pelos seus pares. então a pergunta que faço é a seguinte: será que com outros indivíduos os rumos destes acontecimentos teriam sido essencialmente os mesmos?

a resposta que consigo através da leitura histórica é de que não! pois não são os personagens individuais que fazem e mudam a história e sim os personagens coletivos. aos indivíduos cabem, dentro de usas capacidades e habilidades, realizar aquilo que é o desejo e a vontade expressa conscientemente pelo coletivo e/ou exigida pelo momento histórico.

“quando uma situação determinada da sociedade coloca diante dos seus representantes espirituais certas tarefas (...) são necessárias duas condições para que o homem dotado de certo talento exerça, graças a ele, uma grande influência sobre o curso dos acontecimentos. em primeiro lugar, é preciso que o seu talento corresponda melhor que os outros às necessidades sociais de uma determinada época: se napoleão, em vez do seu gênio militar, tivesse possuído o gênio musical de beethoven, não chegaria naturalmente a ser imperador” (plekhanov)

então não dá para esperar que o bom moço lf seja um armador líder dentro de campo, que leve o time para cima dos adversários, que se aborreça com os empates, que se enerve com as derrotas. que o zagueiro-não zagueiro juninho lidere nossa defesa, que organize uma muralha a frente de nossa meta, que se imponha como capitão perante os juízes. que o leandro guerreiro (?)domine o meio-campo adversário, que coloque o time na linha.

como imaginar que estes líderes (?) com estes perfis liderem um exército que precisa matar ou morrer?

como diz o pragmatismo estadunidense “situações extremas exigem medidas extremas”. mas infelizmente o material humano para isso não pode ser improvisado, ele tem de ser construído, educado, experimentado, amadurecido pela vida.

então só nos resta a qualidade do sujeito coletivo e como esta também não se improvisa, nesta altura do campeonato o coletivo não é o time e sim a torcida.

precisamos lutar, coletivamente, contra os adversários (que são muitos), e contra aqueles, entre nós na diretoria, no time e na torcida, que capitulam à pressão.

precisamos botar o bloco na rua, a torcida tem de comparecer ao engenhão, se não for para apoiar o time que seja para dignificar o botafogo.

que o time seja rebaixado embaixo de vaias, mas que nunca possam dizer que a torcida abandonou o clube.

precisamos entender o clube, a instituição, como nosso patrimônio. um sonho de criança que alimentamos até o túmulo. o senso comum comprova – se troca de camisa, de mulher, de partido, de igreja e até de sexo; mas nunca se troca de time!

por conta deste sentimento que as torcidas comparecem, pois o clube é delas e não de seus elencos fracassados.

só então, a presença do sujeito coletivo pode ser aquele fator a mais, o peso que desequilibra a balança, a última gota que faz o copo de água transbordar, a derradeira chama que faz a água entrar em ebulição.

se o processo é lento, isto ocorre porque sempre somos muito conservadores, acomodados. só o impacto de derrotas e tragédias inomináveis nos faz sair de nosso estado de letargia.

é quando descobrimos forças, antes inimagináveis que fazem mover as rodas da história e mudar coletivamente os rumos dos acontecimentos.

será que as derrotas até aqui não são suficientes? será que teremos de sofrer a tragédia de um novo rebaixamento?

com a palavra nós, torcedores do botafogo ... 4ª feira estarei no engenhão!!

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...conduzido por uma estrela solitária...

11 comentários:

snoopy em p/b disse...

pessoal,

gostaria de ter publicado este texto antes, pois o considero brilhante.
mas é que, novamente, tenho tido problemas de acesso à internet.

se posso, e devo, fazer um outro comentário sobre o texto do dirley, além do que já fiz, é que não sou capaz de incluir o leandro guerreiro no mesmo barco do yellow e do capitão penico.

abraço a todos e sds. botafoguenses!!!

Fernando Gonzaga disse...

o texto é brilhante, e eu também isento o Leandro Guerreiro de qualquer desgraça....ele tem muito crédito, e é um cara muito profissional, que corre por ele e por muitos outros neste time...

abraço!!

snoopy em p/b disse...

fala, fernando!
cara, não é que eu o isente de responsabilidade.
só não o incluo no mesmo barco do yellow e do capitão penico.
o leandro guerreiro tem sua parcela de culpa sim.
mas eu destaco o crédito que ele tem, pelo menos comigo.

abraço

Unknown disse...

pena que não moro na cidade onde meu time joga. a que pena. com certeza eu estaria lá. contra o framengo eu sei que a torcida não vai, e sei qeu é por MEDO DA VIOLÊNCIA, e concordo qeu os que não vão. mas contra o naútico? tem que ser igual contra o havaí. no minimo. esse é o jogo do ano. S.A. pouco esperançosas.

Rodrigo Federman disse...

Muito bom o texto mesmo, Fabião! Parabéns para o Dirley.
Abs e SA!!!

Alberto disse...

Muito bonito e tocante o texto, pena que temos que continuar a conviver com o nosso coletivo formado de cabeças de bagre e jogadores sem vergonha do quilate de um Yellow Flavio, Alessandro, Emerson, Capitão Penico, Lady Wellington, Leo Silva, Fahel, Victor Bonde Simões, e muitos outros craques. Isso sem falar no nosso coletivo administrativo, formado de dirigentes inteligentes, modernos, brilhantes e atuantes. Infelizmente, com um coletivo desses não vejo luz no fim do túnel. Só um milagre salva...

Infelizmente não foi o coletivo que bateu aquele pênalti no domingo (e nem aquele na decisão do Carioca) e sim o merda do LF, um indivíduo que teima em encher a minha paciência desde que chegou e voltou para o Botafogo, um indivíduo que não tem um mínimo de sangue e de raça, um indivíduo que sempre amarela nas decisões e jogos decisivos. Com indivíduos desse quilate e estirpe, com essas bostas dessas mulas mancas, enfim, com esse coletivo e com esses indivíduos fica muito difícil sair desse atoleiro, independente da torcida comparecer ou não. Eu pessoalmente, já tô de saco cheio e a minha paciência com essa mulambada já passou do limite.

Tomara que eu esteja errado, queime a lingua e o time arrebente contra o Náutico.

Um abraço e desculpe o desabafo!

snoopy em p/b disse...

alberto,
fique sempre à vontade, amigo!
o seu desabafo é meu também.
e o coletivo de jogadores merdas é culpa do coletivo de dirigentes merdas...

rodrigão,
abraço!

derlano,
digo o mesmo, parceiro... hehe

abraços e sds. botafoguenses!!!

Lewis Kharms disse...

Fábio, o texto é muito bom mesmo.

A faixa do Danilo foi um 'acontecimento'. Parece que contagiou a torcida e pode ser considerada como a grande manifestação política da noite.

E por falar em coletivo, o que fazem os gênios do marketing botafoguense quando têm licença de sair do berçário? Aumentam os ingressos pra 'garantir a segurança'.

Saudações alvinegras!

snoopy em p/b disse...

luiz,
são, realmente, ums gênios esses homens do marketing...

Dirley Santos disse...

Primeiramente, agradecer ao Fábio, pelo espaço disponibilizado, apesar do tamanho do texto. Mas não suporto à situação vexatória pela qual estamos passando.
E gostaria tb de dizer que escrevi inspirado no estilo épico-historiográfico (se é que isso existe, rsss, do Danilo).
E, por fim, eu tb não gostaria de comparar o LG com os amarelões (até concordo com aqueles que que defendem a tese de que ele merecia ser "vendido" para ser feliz em outro clube. Mas é que sua imagem vem se desgastando junto com o time (ainda me dói as lembranças das suas falhas no gol do Fla em 2007 e no penalti perdido em 2009).

SAN

snoopy em p/b disse...

dirley,
depois, se possível, gostaria que você me passasse seu e-mail.
parabéns pelo texto!

abraço!